domingo, 7 de março de 2010

Naamã, o menino surfista no Caldeirão do Huck

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Sempre que passo pela Rua São Clemente algum passageiro aponta para uma casa colorida no alto da Favela Dona Marta...

Parece que o Luciano Huck providenciou reforma da tal casa premiando os moradores...

Uma senhora humilde saiu com esta:

- Luciano é tão bom que tira dinheiro do próprio bolso para ajudar os outros...

Aí também não...

Huck deve ter uma verba de produção e ponto...

O resto é viagem...

Acho apelativo este negócio de apresentadores como Huck, Gugu, Eliana e Netinho se aproveitarem da dureza alheia para exposição da miséria pessoal em rede nacional...

Ontem reavaliei meus conceitos ao ver um menino surfista que seria contemplado com uma viagem ao Havaí...

O guri contou sua história, mostrou sua casa de pequeno cômodo sem geladeira onde vivem cinco ou seis pessoas no alto de um morro em Ipanema...

Um de seus irmãos descambou para marginalidade e foi morto aos 17 anos...

Seu pai é artesão e passaram muitas dificuldades num período em que acordavam pela manhã e desciam para o asfalto para inventarem uma maneira de arrumar dinheiro para comer...

Atualmente ele está satisfeito frequentando um projeto de surf e seu pai já consegue ir ao mercado e trazer comida prá casa...

A produção do Caldeirão providenciou roupas novas, mala e uma bolsa de estudos para Naamã frequentar uma escola de inglês...

Naamã cabulou as aulas argumentando que fazia sol e tinha que ir à praia...

Naamã é sincero o tempo todo e tem personalidade forte forjada na dificuldade...

No aeroporto Luciano Huck quis saber se o menino estava com medo de encarar sua primeira viagem de avião...

Não, nada...

Naamã aprendeu a não ter medo de mais nada...

Se equilibrou no fio na navalha durante quase toda sua vida como única fórmula possível de sobrevivência...

Agora?

Tudo que vier é lucro...

Huck promete que irá monitorá-lo dali prá frente...

Tomara que cumpra...

Podia começar por lhe presentear com uma geladeira...

Na minha infância pobre sempre tive uma geladeira para fazer picolé de K-Suco dentro das forminhas de alumínio que tinham uma alavanca para separar os cubos depois de congelados...

Pô, taí...

Deu saudade do picolé de K-Suco; do refresco de xarope de Framboesa em garrafa; do frango com macarrão de domingo com Grapette; de soltar pipa; do carrinho de rolimã; da bola de gude...

Só odiava mesmo era aquela procissão que minha vó me obrigava a acompanhar com uma vela pingando em minha mão dando voltas no quarteirão até entrar na mesma igreja que a gente havia saído horas antes...

Aquilo era um saco...

Mas, até disto sinto saudades...
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Viajei...





Jorge Schweitzer




Um comentário:

Alessandro disse...

Achei muito legal a reportagem do Naamã, me fez pensar que quando uma oportunidade bate na porta temos que agarra-la com garra.E parabens ao Luciano Huck por essa iniciativa de ajudar as pessoas...