quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Bela e Santa Catarina; O Fantasma das Águas e o Salva-Mortos do Planalto...




















Morei durante um ano em Florianópolis...

Foi há uns dez anos atrás...

Minha mudança do Rio de Janeiro demorou dois meses para chegar de caminhão em virtude das estradas bloqueadas por enchente...

Eu havia chegado no final de outubro de carro sem enfrentar chuvas...

A BR101 ficou interditada por barrancos que desmoronavam em dominó naqueles meses de novembro e dezembro...

Era a repetição do que já havia ocorrido em anos anteriores, sempre na mesma época...

Durante o tempo em que estive em Florianópolis cruzava a Ilha de motocicleta de ponta a ponta xingando São Pedro após sair de casa com Sol e ter que enfrentar enxurradas...

Cansei de ficar ilhado por tempestades ao dobrar o entorno da Lagoa da Conceição e descer a caminho da Joaquina com a água descendo a viseira como cascata...

Ao tentar passar pelo bairro Rio Tavares com o capacete empapado de chuva por dentro...

Ao me enlamear deslizando em cavalo-pau na Palhoça atravessando uma ponte de madeira que na maior enchente de anos anteriores foi varrida pela correnteza...

Santa Catarina é pontuada por morros, morrotes e montanhas...

E chove, chove muito...

A degradação das vegetações para construção de lugarejos tratou de criar o fantasma do desmoronamento que soterra vítimas debaixo da lama...

Navegantes, Blumenau, Gaspar, Itajaí, Antonio Carlos são cidades submersas...

Enquanto escrevo, os mortos chegam a 80 vítimas...

Infelizmente acredita-se que o número seja maior...

1 milhão e 500 mil pessoas atingidas...

Se comenta que é a pior tragédia que Santa Catarina já passou...



Lembro que na década de 80 eu estive na Cruz Vermelha aqui no RJ, como voluntário, separando sapatos, roupas e colchões para enviar para Santa Catarina...


Jamais saberemos qual foi a maior enchente catarinense...


Não dá para medir...

Não existe escala possível de pontuar com exatidão dor; perdas; corpos e tragédias pessoais...

Outras virão, lógico...

Não existe vontade política de executar projetos de prevenção de catástrofes previsíveis...

Sai mais barato enterrar inocentes...

E olhar todo posudo - empostado e fúnebre tal um papa-defuntos a tomar vantagem da dor alheia - para o relógio a conferir se o minuto de silêncio está sendo observado pelos baba-sacos da claque arregimentada...

Com a precisão de 60 segundos regulamentares para aparecer bem na foto dos jornais do dia seguinte como o salva-mortos do Planalto...



Jorge Schweitzer

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