Sexta-feira...
20 horas...
Rio de Janeiro...
Botafogo...
Rua Mena Barreto naquele pedaço do início de Botafogo onde tem outro nome que nunca sei qual é...
Ao parar no sinal vejo uma cena de cinema...
Estaciono no posto de gasolina em frente para presenciar melhor...
Um boteco sem nome ao lado da Lanchonete Dukas que pertence a um amigo que nunca mais encontrei...
Mesas ao lado de fora...
Um rapaz magro nordestino ao microfone...
Cabelos longos encaracolados estilo jovem guarda perdida...
Camisa colorida como um Dunga...
Colete de couro preto com vários bolsos...
Óculos escuros formato parabrisa Itapemirim...
Anéis vários nos dez dedos tal um Lampião...
Dedilha aquele teclado que faz vezes de bateria, chocalho, trompete, reco-reco, pandeiro e até o próprio órgão e tocam somente com o operador rodando botões obedientes manuseados por mãos cobertas de pulseiras de ouro chapeado...
Ao microfone, de pedestal longo tombado de lado ala Chitãozinho e Xororó irritando Roberto Carlos...
Colado à boca canta muito afinado com inglês incompreensível dos primórdios da torre da babel algo que ecoa como “Roquenrol Lula Bai; chá lá lá lá lá lá ô mi ou mai”...
Postura e trejeitos de astro apesar do auditório de quase ninguém...
Um Zé Rico...
Logo à sua frente uma senhora 70 anos, solitária numa mesa, gordinha, de calça branca brilhosa, blusa esvoaçante vermelha e sapatos novíssimos creme que imagino haverem acabado de saírem da caixa guardada no roupeiro, beberica Brahma no copo geléia de mocotó Imbasa...
Sacode os pés nervosos e trepidantes como parkison, com band-aid no calcanhar, acompanhando o ritmo do sucesso de 40 anos atrás...
Tem o olhar perdido no nada...
Fico imaginando quantos amores deixaram sulcos nas trilhas daquela memória de décadas rápidas que se foram...
Curte um passado que estagnou...
Eu não...
Tenho pressa...
Acelero...
Jorge Schweitzer .
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